O USO DO CRACK

CRACK: UM PROBLEMA SOCIAL RESTRITO ÀS METRÓPOLES ?

O Brasil até pouco tempo estava entre uma das maiores economias do mundo, com uma população estimada em 200 milhões de habitantes, que apresenta grande discrepância entre os seus indicadores econômicos, compatíveis com países desenvolvidos e os indicadores sociais de países menos desenvolvidos.
Um dos problemas da sociedade brasileira é a convivência secular com esse dualismo, esses dois Brasis, de um lado um segmento social que apresenta extraordinário desenvolvimento econômico e do outro lado uma população que vive em situação de extrema pobreza e marginalidade urbana.
A problemática social é multifacetada, complexa, com múltiplos enfoques, com uma desigualdade social que persiste ao longo de toda a história de nosso País.
O uso do álcool e das drogas em geral sempre estiveram presentes em nosso País, mas nos últimos anos tem apresentado grande crescimento afetando todas as famílias de todas as classes sociais, agravando a questão social brasileira.
Nesse contexto o objetivo deste texto é analisar e compreender se o uso do crack é um problema social restrito às metrópoles. 
Uma das fundamentações teóricas é a teoria das Pulsões de Sigmund Freud e a Teoria das Representações Sociais, de Serge Moscovici. 
O Problema que se busca responder é: O uso do crack é um problema social restrito às metrópoles?
é de grande relevância este texto considerando que a questão das drogas sempre esteve presente em diferentes contextos históricos, sociais e culturais na história humana e nem sempre de forma criminalizada.
Aqui será utilizada a pesquisa bibliográfica na coleta das informações, na busca dos fundamentos teóricos e outros dados que se relacionam com a busca de resposta do problema em questão.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Desde a década de 1960, houve grande urbanização, porém de forma desordenada, sem um planejamento para acolhimento dessas famílias provenientes da zona rural, contribuindo sobremaneira para o processo de favelização das áreas urbanas, má distribuição de renda. A ocupação dos morros no Rio de Janeiro foi também motivada pela reforma urbana do Prefeito Pereira Passos que objetivou embelezar e modernizar a cidade do Rio de Janeiro.  Há uma forte correlação entre a urbanização e o desenvolvimento da indústria e do comércio no Brasil.
Enquanto a população urbana brasileira cresceu 104,78%, entre 1970 e 2010, as residências ocupadas cresceram 220,68%. Além do êxodo rural também contribuíram para a ampliação do número de residências o aumento de pessoas idosas e novas formas de arranjos familiares.

Ano
População Urbana %
População Rural %
1960
45,1
54,9
1970
56,0
44,0
1980
67,7
32,3
1991
75,5
24,5
2000
81,2
18,8
2010
84,4
15,0
Fonte: IBGE

Com a modernidade e o avanço do sistema capitalista, das novas tecnologias aflorou no ser humano o embate simbólico entre o “Ser” e o “Ter”. Consumir é uma forma de ter, alivia ansiedades, mas exige que o consumo seja contínuo, cada vez mais. Na contemporaneidade entendemos que somos aquilo que temos e que consumimos. A Cultura e a modernidade induz o ser humano a conviver com o mal-estar existencial de nossa sociedade e exige esforços do indivíduo para superar a fragilidade humana e manter uma razoável estabilidade. A impossibilidade do “Ter” se relaciona ao uso de drogas por contribuir para a fragilidade humana pelo fato de gerar ansiedades, conflitos internos e desequilíbrio emocional no ser humano.
Conforme Queiroz (2001) os conflitos do ser humano derivados da fragilidade humana despertam a pulsão de morte gerando um mal estar insuportável, que faz parte da nossa condição humana.
De acordo com Freud apud Queiroz (2001, p.6) a medida paliativa mais utilizada pelos homens na convivência com esse mal-estar insuportável é a intoxicação que torna momentaneamente o ser humano insensível à sua desgraça.
Em larga medida o usuário de drogas ilícitas sempre foi criminalizado, através de ações punitivas, considerando a dependência química como falha moral ao invés de ser percebido como um sério problema de saúde. 
A representação social das drogas lícitas são construídas pela sociedade e pela mídia de forma muito diferente da representação social das drogas ilícitas.
Conforme Lacerda, Santos e Ferreira (2013) a representação social das drogas ilícitas apresentam algumas características:

·         No Brasil o uso das drogas foi inicialmente disseminado pelas camadas sociais com menor poder aquisitivo;
·         Associam o consumo de substâncias ilícitas às classes tidas como perigosas à manutenção da ordem vigente e atuam na criminalização dos seus usuários;
·         Usuários de drogas ilícitas passaram a ser chamados de “viciados”;
·         A mídia repassa uma série de matérias sobre a violência relacionada ao tráfico e sobre os “perigos das drogas ilícitas”;
·         Estigmatização dos usuários de drogas ilícitas

Com o objetivo de permitir uma reflexão comparativa, relaciono abaixo algumas características das drogas lícitas relacionadas por Lacerda, Santos e Ferreira (2013):

·         Drogas que tem seu considerado legítimo pela sociedade;
·         A propaganda e o enriquecimento dos empresários desse ramo é legalizada e o uso abusivo torna-se constante;
·         Tolerância da sociedade e naturalização do consumo das drogas lícitas; 

No contexto das Políticas Públicas desenvolvidas pelo Estado as regiões metropolitanas possuem uma estrutura melhor do que as cidades do interior do Estado, porém os recursos e a estrutura existente continuam sendo insuficientes para o atendimento da demanda. Nas cidades do interior a precariedade da infraestrutura para acolhimento e tratamento de usuários de drogas é lamentavelmente muito inferior à existente nas capitais dos Estados. 
Atualmente o consumo de drogas ilícitas está presente em todas as cidades, inclusive na zona rural potencializando um maior número de usuários que pouco podem contar com o Estado para o seu tratamento e recuperação.

DISCUSSÃO 

Relaciono abaixo a síntese dos resultados obtidos com o trabalho desenvolvido por Queiroz (2001), sendo:
·         A violação dos Direitos Humanos e dos Direitos de Cidadania tem sido uma prática constante em nossa realidade e os fatores que contribuem para essa situação são muitos e de várias ordens;
·         Fazemos parte de uma sociedade que, muitas vezes, não reconhece o usuário de drogas como cidadão que deve ter seus direitos respeitados;
·         É inaceitável, eticamente, abandonar e continuar a discriminar os toxicômanos que passaram por fracassos terapêuticos ou que ainda não estão aptos e/ou motivados para mudar por meio do engajamento em um tratamento;
·         O objetivo das ações de Redução de Danos deve ser a inclusão social e o rompimento da marginalização dos usuários de drogas.



Partindo do pensamento em que, a nossa sociedade já tem um pré julgamento a respeito dos usuários de drogas como marginais, incapazes, improdutivos, etc., e estão à margem dessa mesma sociedade, que discrimina não somente a pessoa usuária de drogas como também a família desse usuário, as conseqüências são ainda maior e de maneira direta a toda família. Fazendo assim com que dificulte ainda mais o apoio a esse usuário, principalmente nos lares mais fragilizados e desestruturados.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um fato recorrente nos estudos relacionados nas referências é a marginalização dos usuários de drogas e o fato da sociedade não reconhecer o usuário de drogas como cidadão que deve ter seus direitos respeitados. Ao invés de ser percebido como uma pessoa doente, que precisa de tratamento, geralmente é criminalizado, visto como uma pessoa com falta de força de vontade.
Comenta-se nas pesquisas realizadas que existe um consenso em nível mundial entre os profissionais, quanto à insuficiência da infraestrutura oferecida pelo Estado para acolhimento, atendimento e tratamentos terapêuticos.
Diante do exposto percebe-se que o uso do crack não é um problema social restrito às metrópoles. De forma quantitativa as metrópoles possuem uma maior quantidade de casos, mas o sofrimento do cidadão, o preconceito e a falta de estrutura do Estado encontra-se presente além das metrópoles.
De acordo com Domingos e Machado o Assistente Social, no trabalho de apoio ao dependente do uso de drogas integra uma equipe multidisciplinar, com o objetivo de promover a inclusão social dos usuários de drogas utilizando uma abordagem de atenção integral que estimule a motivação pela vida e o exercício pleno da cidadania, fornecendo informações e acolhimento, de forma a construir uma visão crítica do seu contexto de trabalho, atentando para a conjuntura e a utilização de estratégias viáveis.



Autor: Ivanildo Miranda




FONTE: Clique AQUI e acesse todas as fontes utilizadas no texto

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE