O ENFRENTAMENTO DO PROBLEMA DO CRACK NO CONTEXTO DA SAÚDE PÚBLICA
CRACK UM PROBLEMA SOCIAL
Há no Brasil uma epidemia do uso de crack na área urbana, tanto nas pequenas cidades quanto nas grandes metrópoles, atingindo um percentual de 98% dos municípios brasileiros. Diante de tal situação, a questão do uso do crack não pode ser considerado apenas um caso de Segurança Pública mas notadamente de Saúde Pública, com externalidade negativas atingindo o tecido social de nossa sociedade.
Em nosso País o tratamento do uso abusivo de álcool e outras drogas tem sido abordado sempre de uma maneira psiquiátrica ou médica, sem levar em consideração a visão holística do problema, gerando uma percepção distorcida da questão.
Diante dessa situação o Ministério da Saúde buscou alternativas de atenção de caráter total com abrangência em todas as áreas. Pois o pensamento desvirtuado da realidade do uso de álcool e outras drogas, acabam por gerar e até promover uma cultura de combate às drogas, que são totalmente ineficazes.
No Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, realizado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), nos anos de 2001 a 2005 mostra que as drogas têm aumento progressivo encabeçado pela maconha. Não sendo levado em conta o álcool e o tabaco.
Assim, o Governo Federal busca parcerias com a sociedade civil e com as demais unidades federativas da esfera estadual e municipal, de forma que a abstinência não seja a única meta viável e possível aos usuários, nos tratamentos ofertados.
Neste texto o foco é demonstrar de maneira clara e objetiva, como estar sendo conduzido pelo município de Vitória - ES, o tratamento que tem como foco o problema do uso do crack, álcool e outras drogas de maneira geral.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No Brasil, o governo Federal através do Ministério da Saúde, busca estabelecer um traçado com ações e metas na construção diversificada em ofertas terapêuticas, preventivas, reabilitadoras que permitirão um combate com maior eficácia, principalmente em longo prazo, ao fenômeno síncrono do uso abusivo/ dependência em álcool e outras drogas de maneira mais íntegra e variada.
No Espírito Santo e em específico na capital Vitória, foram implantados, em parceria com o Governo Federal, novos programas referentes ao combate às drogas, através do apoio psicossocial aos usuários de álcool e outras drogas. Destaca-se a parceria que a SEMUS - Secretaria Municipal de Saúde realiza com outras secretarias Entidades filantrópicas, ONGs, etc.
CAPS AD - Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas
O CAPS AD oferece um serviço que acolhe e atende pessoas que requerem atenção psicossocial e tenham adquirido transtornos através do uso e dependência de substâncias psicoativas. Atende diariamente este segmento da população do município de Vitória - ES que tem o perfil de pacientes que utilizam álcool e outras drogas de maneira abusiva e que afetam de maneira geral, suas famílias e a sociedade.
O serviço ofertado pelo CAPS AD consiste em atendimento individual através de medicações, psicoterapias e orientações. Também existe o atendimento em grupo e quando necessárias, visitas domiciliares.
No município de Vitória – ES o CAPS AD coordena um Fórum mensal, relacionado ao uso de drogas, que reúne representantes dos municípios da Região Metropolitana da Grande Vitória para tratarem de questões relacionadas a saúde mental, álcool e outras drogas.
O CAPS AD em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência Social possibilitou incluir ações voltadas à infância e adolescência, principalmente os que vivem nas ruas. Para atender a essa parceria a unidade do AD III oferece atendimento para todas as faixas etárias, sendo: aos adultos é ofertado serviço 24 horas e para crianças e adolescentes o atendimento ocorre das 16h às 20 horas.
O CAPS AD também firmou parceria com a ACARD - Associação Capixaba de Redução de Danos, que possibilitou ações de campo, junto aos usuários do sistema.
O acesso dos usuários ao CAPS AD pode ocorrer de 02 modos:
· O cidadão pode ir diretamente ao CAPS AD;
· O usuário ou seu familiar podem procurar a Unidade Básica de Saúde de seu bairro, que através do atendimento inicial feito pelos profissionais competentes e constatando a necessidade faz-se o encaminhamento dessa demanda para o acompanhamento no CAPS AD.
O atendimento no CAPS AD é realizado de segunda a sexta- feira, das 7 às 20 horas e está localizado na rua Álvaro Sarlo, s/n, Ilha de Santa Maria, Vitória.
CONSULTÓRIO NA RUA
Estabelecer vínculos com a população de rua, através do consultório de rua, é um dos fatores mais importantes para que os moradores de rua e usuários de drogas possam ser beneficiados pelo tratamento ofertado pelo município, considerando que, em larga medida, grande parte dessa população não se dirige voluntariamente aos locais onde são ofertados os diversos tratamentos de saúde.
A integração, a capacidade de se colocar no lugar do outro, de compreender sem fazer julgamento de valores, respeitando assim seus limites, são fatores primordiais para desenvolver esta ação e obter êxito.
O Ministério da Saúde definiu as diretrizes de Organização, financiamento e funcionamento das equipes de Consultório de Rua, através da portaria 122, publicada em janeiro de 2012. Com isso garantiu-se assim, os financiamentos permanentes ao projeto “Consultório de Rua” de Vitória e permitindo sua integração às Unidades básicas de Saúde e CAPS AD. O Consultório de rua foi desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde (SEMUS) do município de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo e o seu principal foco é a abordagem de rua a moradores sem teto que vivem como indigentes perambulando pela cidade. Entre eles, usuários de droga, principalmente os de crack, que é a droga mais utilizada por essas pessoas.
O trabalho é desenvolvido, - como o nome já sugere-, na rua e/ou ambientes onde estas pessoas vivem que são inúmeros lugares como: prédios abandonados; debaixo de pontes; debaixo de viadutos; praças, entre outros.
Uma equipe itinerante de profissionais faz a abordagem e procura sempre um vínculo maior com os moradores de rua e usuários de drogas, de maneira a adquirir confiança o suficiente para um acompanhamento a longo prazo.
Essa Equipe é composta por: enfermeiros; psicólogos; assistentes sociais; motoristas e auxiliares de enfermagem. Estes profissionais recebem um treinamento diferenciado, pois todo o processo dependerá sempre da abordagem, que deve ser de maneira cautelosa e sutil.
Quando necessário os moradores de rua são encaminhados para as unidades de saúde integrantes do sistema de saúde, tais como: Unidades de Saúde, Centro Municipal de Especialidades (CME), CAPS AD - Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas, etc. O atendimento desta equipe é realizado de segunda a sexta-feira das 8 às 24 horas.
REDE ABRAÇO
O Programa “Rede Abraço” é realizado pela coordenação Estadual sobre Drogas (CESD) do Governo do Estado do Espírito Santo. Atuando em todo o Estado.
Através de estudos e pesquisas realizados pelo Governo do Espírito Santo, constatou-se e chegaram a conclusão de que os problemas relacionados ao uso de drogas, são complexos e necessitam de apoio mútuo e intersetorial. Está ligado não somente a parte física e mental, mas também ao social, cultural, político.
Este programa tem como objetivo principal a prevenção ao uso indevido de drogas e a promoção da qualidade de vida da população. A parte de pesquisa, capacitação e informação é estimulada também com abrangência sempre no foco “drogas” e suas conseqüências, com o intuito na melhoria ainda mais no que se refere e abrange aos usuários/dependentes químicos.
Também tem como objetivo a reinserção social com cursos terapêuticos, cursos de formação profissional, além de atividades laboratoriais, culturais e esportivos.
O Programa Rede Abraço tem uma linha de informação direta e gratuita (0800-028-1028) e o atendimento é de 2ª a 5ª feira das 8 às 17:20 h. Na 6ª feira – das 8 h às 15 h. O endereço é: Avenida Getúlio Vargas, Nº 285 – Centro de Vitória- Ao lado da Praça Oito.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o crack como também o álcool e outras drogas crescem a tal proporção que envolve todos os brasileiros e é um problema de saúde pública, que precisa do comprometimento de todos os integrantes do poder público.
Apesar dos serviços existentes e a tentativa dos governos se esforçarem para combater o problema das drogas, a eficácia fica comprometida a partir do momento em que os profissionais envolvidos tenham uma formação voltada para o modelo médico hospitalocêntrico. Por esses e outros motivos as relações desses mesmos profissionais com os usuários torna-se desfavorável para um atendimento integral.
Fica evidente que para um pleno funcionamento torna-se imprescindível estabelecer uma rede de saúde mental, com a efetiva disposição de todos os profissionais atuando de forma transdisciplinar, com diálogo efetivo, para que haja um efetivo enfrentamento aos desafios ora vividos, de forma que possibilite dar a atenção necessária e um atendimento resolutivo e mais humanizado aos usuários das diversas drogas.
Percebe-se na prática que a falta de atenção efetiva da SESA – Secretaria Estadual de Saúde, SAMU e OS (urgências) prejudica sobremaneira o andamento do trabalho efetivo da rede de atenção psicossocial e deixando vulnerável o acompanhamento e a total garantia no tratar, principalmente nos momentos mais graves.
No dia a dia desses serviços de saúde ocorrem inúmeras situações em que os profissionais se vêem sem saída em determinados casos de difícil manejo, quando precisam, com urgência, de uma internação hospitalar, por exemplo, e não há leito disponível.
Autor: Ivanildo Miranda
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